Desenvolvimento de Designers: Uma Jornada de Crescimento Contínuo
Todo time de design precisa de duas coisas para evoluir de verdade: espaço para crescer e clareza sobre como crescer. Parece simples — mas, na prática, criar um ambiente que estimule desenvolvimento contínuo é um desafio que exige escuta ativa, colaboração genuína e decisões bem fundamentadas.
Foi com essa inquietação que eu, junto com dois colegas incríveis, liderei um projeto interno na empresa para repensar como acompanhamos e impulsionamos o desenvolvimento dos nossos designers. O objetivo era direto: construir uma estrutura que desse visibilidade ao momento de cada pessoa dentro do time e apontasse caminhos reais para a evolução.
Essa é a história de como fizemos isso acontecer.
Começando pela escuta: o que o mercado e o nosso time tinham a nos dizer
Antes de desenhar qualquer estrutura, sabíamos que precisávamos ouvir. Ouvir o que o mercado fazia de melhor — mas, principalmente, ouvir quem está na linha de frente todos os dias: nosso próprio time.
Entrevistamos líderes de empresas como Nubank, Claro, Dell e BT Group para entender como eles lidavam com o crescimento de seus times de design. Queríamos saber quais práticas funcionavam, quais métricas faziam sentido e como conseguiam cultivar uma cultura de evolução contínua.
Em paralelo, conduzimos um Lightning Decision Jam com o nosso time e utilizamos a Matriz CSD (Certezas, Suposições e Dúvidas) para estruturar percepções. Essas dinâmicas trouxeram à tona questões importantes — muitas vezes não ditas com todas as letras, mas sentidas no dia a dia.
Entre os temas que surgiram com mais força estavam a necessidade de fortalecer o papel estratégico do design dentro da empresa, aumentar a fluência em pesquisa de usuário, melhorar canais de comunicação internos e tornar os processos de reconhecimento e crescimento mais claros e acessíveis.
Também emergiram preocupações mais sutis — como o impacto da instabilidade em tempos de incerteza, a concentração de projetos em poucos clientes ou a desconexão entre expectativas de carreira e estrutura organizacional.
Esses achados foram fundamentais. Eles não só reforçaram a importância do que estávamos construindo, como também nos ajudaram a moldar soluções que realmente conversassem com a realidade do time.
Traduzindo dados em caminhos: de percepções a frameworks
Com todos esses dados em mãos, chegou a hora de estruturar.
Criamos duas ferramentas simples — mas transformadoras:
A planilha de nivelamento de designers: Uma ferramenta para mapear com mais objetividade o estágio de cada designer no time. Ela traz critérios claros, divididos por competências, e ajuda a identificar padrões de atuação e oportunidades de evolução. Nada de rótulos ou hierarquia seca — a ideia era gerar autoconhecimento e conversas melhores.
A planilha de expectativas de evolução: Paralelamente, estruturamos uma matriz com as expectativas para cada estágio da carreira. O objetivo era dar visibilidade ao que é esperado em cada momento, evitando ambiguidades e ajudando nas conversas de feedback, plano de desenvolvimento e acompanhamento com lideranças.
Essas ferramentas começaram a ser utilizadas de forma leve, em ciclos de conversa entre líderes e liderados, e também em rituais de avaliação e 1:1s. A linguagem visual foi pensada para ser acessível. Os critérios, validados com o próprio time. E o uso, flexível — cada pessoa podia se apropriar daquilo no seu tempo.
Mais do que classificar, queríamos iluminar caminhos.
Ao rodarmos a primeira pesquisa com o time após a implementação, percebemos um padrão: a maioria das pessoas passou a se sentir mais segura sobre sua trajetória, e muitos mencionaram que, pela primeira vez, conseguiam enxergar com clareza o que precisavam desenvolver.
Essas ferramentas não resolveram todos os problemas — e nem tinham essa pretensão. Mas criaram um ponto de partida comum. Uma linguagem compartilhada sobre crescimento.
E isso, por si só, já era um salto enorme.
Medindo o impacto: o que os dados nos contaram
Para entender o valor real do que estávamos construindo, rodamos uma pesquisa com o time após aplicar os testes de nivelamento e expectativas.
Os resultados deixaram claro:
85% das pessoas se sentiram mais seguras sobre onde estão e para onde querem ir;
78% disseram que a planilha de expectativas trouxe mais foco para seu desenvolvimento;
E, talvez o mais importante, o índice de conversas significativas sobre crescimento aumentou significativamente nos 2 meses seguintes à implementação.
Mais do que números, sentimos um efeito cultural: o assunto “desenvolvimento” deixou de ser tabu ou algo que acontecia só em avaliações formais. Ele virou pauta viva, do dia a dia.
O que aprendemos no processo
Conversar com líderes de empresas como Nubank, Claro, Dell e BT Group nos abriu os olhos para práticas que vão além da estrutura — elas fortalecem cultura, confiança e autonomia.
Esses foram alguns dos aprendizados mais marcantes das entrevistas:
Design Critique como ritual de melhoria contínua: Empresas maduras cultivam uma cultura forte de feedback, com sessões regulares de Design Critique que ajudam a elevar o nível dos projetos e a desenvolver o olhar crítico dos times.
Formações internas como motor de atualização constante: Talks e workshops são organizados por pessoas do próprio time para compartilhar aprendizados, experiências de projetos ou estudos mais aprofundados. Isso fortalece o senso de comunidade e aprendizado mútuo.
Mentorias entre pares: Designers mais experientes assumem um papel ativo no desenvolvimento dos colegas mais juniores, criando pontes de confiança e aprendizado contínuo dentro do próprio time.
Self-assessment como ferramenta de clareza: O exercício de autoavaliação frequente, seguido de uma avaliação dos gestores nos mesmos critérios, permite um alinhamento realista sobre pontos fortes, pontos de atenção e próximos passos.
Testes de personalidade para aprofundar relações: Alguns líderes utilizam ferramentas como o 16 Personalities para entender melhor os perfis das pessoas do time e adaptar sua forma de liderar.
Análise SWOT do time como bússola coletiva: Mapear forças, fraquezas, oportunidades e ameaças com o próprio time revelou-se essencial para criar estratégias de evolução que realmente façam sentido para todos.
Avaliação de desempenho com métricas claras: A recorrência de rituais formais de avaliação — como os realizados a cada semestre — ajuda os designers a enxergarem sua evolução de forma objetiva, diminuindo incertezas.
Design Ops como estrutura de suporte: Muitas das empresas com maturidade alta em design criam times ou frentes específicas para cuidar da operação do design: como melhorar processos, rituais, ferramentas e alinhamento com tech e produto.
Team Canvas para alinhamento de valores e metas: Um ponto em comum entre várias equipes é o uso de ferramentas visuais como o Team Canvas para promover alinhamento de expectativas, valores e objetivos individuais e coletivos.
Esses aprendizados reforçaram que o desenvolvimento de um time não acontece em uma planilha — ele nasce nas relações, nos rituais e no cuidado com a cultura.
Um convite à continuidade
Esse projeto não foi um fim. Foi um começo.
Um começo de novas conversas, de novas formas de enxergar o crescimento dentro do time e, principalmente, de um novo olhar sobre o que significa evoluir como designer — e como equipe.
Sabemos que o desenvolvimento é uma estrada que nunca termina. O que construímos até aqui é uma base viva, que precisa ser revisitada, adaptada e cuidada com o tempo. Não existe fórmula pronta, e tudo bem. O importante é seguir caminhando com intenção, escuta e abertura.
Nosso convite é simples: que esse movimento não pare.
Que outras pessoas se apropriem dessas ferramentas, que novos rituais nasçam, que as estruturas evoluam junto com o time. Que a cultura de desenvolvimento deixe de ser uma iniciativa pontual e se torne parte do nosso dia a dia — assim como o design é parte da solução, o crescimento pode (e deve) ser parte do processo.
Porque quando a gente cresce junto, o impacto vai muito além das entregas.
Vai para as relações. Para o clima. Para o futuro que estamos construindo como time.
E é por isso que seguimos: com clareza no presente e compromisso com o que ainda está por vir.







